Não atentem para o título, quer
dizer coisa alguma. Na verdade é bom desatentar para quaisquer palavras
lançadas a esmo nessa folha borocoxô. A primeira sensação ao abrir os olhos da
mente hoje pela manhã foi a de que uma dor de cabeça resolvera me acompanhar.
Eu penso que se uma dor de cabeça decide ser o seu presente assim logo cedo, é
por que há nela um tanto de sentimento em relação a você. Talvez eu deva me
sentir privilegiada, então, por ter sido contemplada com essa inusitada aparição
de amor? Fiz até versinhos rimados pra ela.
Mas, qual a relevância de uma
reles dor de cabeça diante de tantos acontecimentos nesse mundão desembestado,
louco e lindo porque nós vivemos nele? Hei de dar os meus pitacos acerca dos
últimos fatos do cotidiano, afinal, é dele que me alimento. O cotidiano é meu
camarada, oxente! A princípio tecerei opiniões imprescindíveis sobre o
afastamento, aposentadoria, licença prêmio, seja lá que raios de nome
arranjarem, do papa Bento XVI. E cria-se um furdunço que eu não compreendo o
porquê. Qual o problema do cara querer (quase virou letra de música, tipo o cara-caramba-caraô
do Chiclete com Banana) se afastar do trabalho e ter sossego no que lhe resta
de vida? Por que deve ser uma coisa cansativa viver toda a vida vigiado feito
tivesse num Big Brother mundial, aos olhos amorosos dos que o adoram ou aos
olhos críticos dos que lhe sentem ojeriza. E estar sempre a acenar e sorrir
levemente. E dizer aos irmãos e irmãs de fé aquilo que devem ou não devem
pensar. Sujeito sábio o alemão (cujo nome é difícil que só), saiu do caldeirão
fervente das discussões do estilo “quem sabe mais de Deus sou eu”, para a vida
sem pompas e bajulação dos reles mortais, que tendo um dia sido pontífice
(adoro essa palavra), certamente partirão sem escalas para ocupar uma cadeira
celeste. Deixem-no!
Domingo no Fantástico, uma moça
hollywoodyana entrevistada, contando da sua passagem pelo Brasil, orgulhou-se
em dizer que havia visitado uma favela. Ontem, no Jornal Nacional, o Indiana
Jones andou passeando por uma outra favela no Rio de Janeiro e claro, todo o
povo do jornalismo estava lá para conferir. Comovente, né não? Penso no quão
exótico deve ser, para eles, um passeio assim. Algum guia do lado explicando: “Esse
líquido de aroma pouco agradável trata-se do nosso esgoto que não tendo aonde
se malocar, corre para a rua aonde o senhor está a pisara”. É claro que estou
sendo leviana em comentar sobre uma realidade a qual não conheço, mas acho de
uma hipocrisia filhadamãe esses caras de sotaque importado passear pelos becos
e vielas como se tivessem num safári, cercado por seguranças, polícia e
etecétera e talvez uma placa com os dizeres “o senhor Harrison Indiana Jones
Ford certa vez passou por aqui e todo o esgoto ganhou um bueiro” seja pendurada
na principal parede do lugar.
Gosto de atentar para as coisas
importantes circulando nas redes sociais e demais sites expert em frivolidades.
Isso não me enriquece o espírito, mas testa o quanto é grande o meu poder de
tolerar. Adoro, por exemplo, as atualizações alheias no tal Instagram. Um dia
ainda vou ter um novinho só pra mim. Quando eu via as fotos do povo nas
situações mais bacaninhas ou não, comendo, dançando, bebendo, enlouquecendo, praticando
do profundo direito ao nada e postando as fotinhas no através do tal, eu
pensava: “esse moço é bom que só, vive deixando as pessoas fazerem dele o seu
instrumento de aparição”. A pessoa está, por exemplo, na praia e entre um
mergulho e outro abre um sorrisão meio sem vontade, a fim de mostrar a todos o
quanto está curtindo. Eu acho que estou meio fora de forma no quesito curtição,
porque na minha época, quando eu era pequena aqui em Arapiraca, a gente curtia
a curtição bem mais que parava pra fotografar. A gente comia, bebia e se
divertia despudoradamente e gostava de registrar os momentos através da câmera,
porque se perpetuava tudo aquilo, mas o que valia mesmo não se via com os olhos
de se enxergar pra fora. Se o Instagram fosse uma pessoa, eu o visualizaria
multifacetário: comilão, bebum, feliz, imediatamente triste, fazendo
coraçãozinho emo, sensualizando no biquinho, curtindo um show sem nem saber que
música tocava naquele instante, jurando amor eterno, chorando o coração
partido, feio, lindo, cabelo chapadinho, maquiadão, #festa#amigos#partiu...
Última e velha notícia
carnavalesca: O trio elétrico do Chiclete com Banana (cara-caramba-caraô) foi
avaliado em cem milhões de reais. Eu pergunto: o que fazem de braços cruzados
os terroristas e revolucionários desse mundo?
Ah, bora parar, né? Estou mesmo
insuportável hoje. Nem minha dor de cabeça me aguentou e #partiu sem nem me
deixar retratá-la no Instagram que eu nem tenho.
“Eu to ficando velha
Eu to ficando louca!”
O poema:
Querida dor de cabeça
só te peço gentilmente
pelamordeDeus me esqueça
eu sou muito boa gente
Mas se tu te recusar
e insistir na paquera
veja bem, vá se lascar!
que meu bom humor já era